Se tem uma indústria que tem acompanhado o crescimento da Onda Coreana (hallyu) é a indústria cinematográfica. Segundo um estudo da Oxford Economics, as indústrias de filme e televisão contribuíram para a economia coreana com, aproximadamente, 8,280 bilhões de Won, o que corresponde a 0.4% do PIB da Coreia do Sul. Segundo o estudo, mais de 78 mil pessoas estavam empregadas em 2018 trabalhando para essas indústrias.
Ciro Marcondes, professor e crítico de cinema, convidado pela Embaixada da Coreia para o Festival República da Coreia, explorou o cinema coreano e trouxe alguns pontos importantes para explicar a ascensão da indústria que vem sendo construída por décadas. Também participou do painel “100 Anos do Cinema Coreano”, Priscila Santos, produtora da Pandora Filmes – distribuidora responsável pela circulação de Parasita (Bong Joon Ho) no Brasil.
O Cinema Coreano é também uma política de Estado
O painel 100 Anos do Cinema Coreano começou com a cena emocionante do Bong Joon Ho recebendo o Oscar de melhor filme. Para Marcondes, a consagração de Parasita amplia uma visibilidade que o cinema coreano vem conquistando desde a década de 1990.
Marcondes citou dois clássicos da era de ouro do cinema coreano (período entre 1950 e 1960): Hanyo (Kim Ki Young) que traz um drama social; e Bala Perdida (Yu Hyun Mok) um drama pós guerra. Nessa época a indústria contava com grandes produções e os trabalhos incluíam temas voltados para as questões sociais. Com o golpe militar, a indústria foi censurada e suas produções eram destinadas para a propaganda da ditadura que se instaurou no país por mais de 20 anos..
A partir da década de 1990, com a democratização da Coreia, o cinema coreano foi impulsionado por empresas e pelo governo, como política de Estado. Existia, até mesmo, cotas para exibição mínima de filmes coreanos pelo território nacional. Estes filmes competiam espaço, principalmente, com as produções norte americanas que chegavam à Coreia. Logo, a solidificação nacional foi importante para a ascensão do cinema coreano internacionalmente.
O professor cita conhecidos nomes e filmes do cinema coreano que contribuíram ao longo dos anos para a indústria, tais como: Kim Ki Duk (Casa Vazia, inclusive fizemos uma resenha aqui) e Park Chan Wook (com sua trilogia da vingança, sendo o mais conhecido Oldboy). Estes e outros diretores já participavam dos circuitos internacionais de cinema e já eram conhecidos, sobretudo, nos países vizinhos da Coreia.
A interessante distribuição de Parasita no Brasil
Santos contou como aconteceu a distribuição de Parasita no Brasil e ressaltou a importância da comunidade coreana no país e dos fãs do cinema coreano. Santos diz que a curadoria aproveitou as críticas que o filme vinha recebendo por onde passava usou como um dos eixos para divulgação.
A Pandora Filmes viu o potencial do filme e investiu em chamar atenção daqueles que não estavam familiarizado com filmes coreanos. Fizeram parcerias com empresas de salas de cinema, shoppings, influencers, comunidade coreana (restaurantes, lojas) e a própria Embaixada da Coreia. Santos compartilhou que a comunidade coreana promove muito bem sua cultura.
A Pandora Filmes trabalha com filmes coreanos já há algum tempo e é parceira da Belas Artes À La Carte, plataforma de streaming de filmes cujo catálogo inclui filmes coreanos: HAHAHA (Hong Sang Soo); Em Chamas (Chang-dong Lee); O Hotel Às Margens do Rio (Hong Sang Soo); entre outros títulos.
A importância de incentivar a cultura
Marcondes acredita que o sucesso de Parasita é resultado da influência de eventos que aconteceram no decorrer da história do cinema coreano, inclusive nos incentivos do governo. Em suma, acredita que o investimento nas áreas voltadas à cultura, como é o caso do cinema, ajuda o país a se propagar no cenário internacional e tem impacto duradouro na economia.
Isso está de acordo com o Santos observou em relação a empolgação dos coreanos no Brasil ao divulgarem o filme de seu país. O orgulho que sentem das produções culturais de seu país está intrinsecamente ligado ao incentivo que receberam para consumir tal cultura.
O Oxford Economics cita o aumento do turismo na Coreia do Sul e adere a isso o poder da Onda Coreana, inclusive, o importante papel desempenhado por filmes e programas de televisão para este movimento.
Confira na íntegra a palestra do terceiro dia do Festival República da Coreia aqui. Confira também o desafio #JessicaJingle lançado pela Embaixada aqui.
Fonte: Oxford Economics – The economic contribution of film and television in South Korea in 2018.