Visitar e até morar na Coreia do Sul tem sido o sonho de muitos nos últimos anos. Em vista disso, batemos um papo emocionante com Gisene Torres, que viveu neste país por 5 anos. Aqui, ela compartilha das mais variadas facetas do país famoso por sua cultura, gastronomia e os choques culturais com muito senso de humor e atenção.
Nos fale um pouco de você e de sua história na Coreia do Sul!
Sou Gisene Torres, tenho 28 anos e sou formada em Design de Moda no Brasil e em Gastronomia na Coreia do Sul. Morei na Coreia de abril de 2015 até janeiro de 2020, estudando na Chodang University.
Residi e estudei numa cidade no interior, bem longe da capital, a qual era desconhecida até para alguns coreanos. Ah, o nome da cidade: Muan Gun, província de Jeollanam – região de culinária incrível e agricultura bem forte.
DIA-A-DIA
Certamente, turistar é bem diferente de você se “infiltrar” numa cultura diferente da sua. Primeiramente, eu era a ÚNICA ocidental da cidade. Logo, os olhares e os comentários nem sempre eram positivos. Foi bem difícil fazer amigos. Porém, quando fiz, foram os melhores, tanto coreanos quanto estrangeiros.
No entanto, mais tarde, fui amadurecendo. Sofri preconceito, tive alguns probleminhas, mas não posso deixar de ressaltar todo o amor, carinho e ajuda que eu tive dos meus colegas e professores.
Quais foram os primeiros choques culturais relacionados à culinária que você teve ao chegar lá?
CAFÉ DA MANHÃ
Inicialmente, comer arroz, kimchi, ovo ou peixe no café da manhã. Meu Deus, que sufoco! Os primeiros meses foram muito difíceis. Perdi bastante peso no começo, tinha um bloqueio com o café da manhã, e, como eu não conhecia muito bem o lugar, demorei alguns dias até me habituar a sair atrás de comida.
Aliás, senti muita dificuldade em me acostumar com comidas apimentadas. Uma vez, pedi a sopa de Kimchi (Kimchijjigae). As lágrimas escorriam, mas era bom pra rinite, o nariz ficava uma beleza. Porém, hoje, é um dos meu pratos favoritos da vida. Já a pimenta, não consigo passar um dia sem.
No geral, foi uma descoberta. Abriu meu leque gastronômico, meu paladar mudou muito. Lá, aprendi a comer uma variedade de vegetais que eu nem imaginava experimentar, como raíz de lótus.
Nos conte: por qual método você conseguiu chegar até a Coreia do Sul?
O SONHO
Tudo começou em 2013, quando comecei a estudar coreano na Liberdade/SP. De lá, soube de um curso do KpopStation no Bom Retiro, e fui pra lá também. De fato, sempre deixei bem claro o meu desejo de ir pra Coreia estudar.
Em janeiro de 2015, uma das fundadoras do KpopStation entrou em contato comigo, sobre uma bolsa de estudos, e que, se eu estivesse interessada, poderíamos bater um papo. Lembro-me como se fosse ontem, meu coração batia na garganta! Eu tinha muita certeza que eu ia pra Coreia, muita mesmo, só não sabia como. Eu falava “Vou na Fé!”. E não é que deu certo? Naquele dia mesmo, começamos o processo: documentação infinita.
SOBRE A BOLSA
Era uma bolsa especial de 5 anos – 1 ano de curso de coreano dentro da própria Universidade e mais 4 anos de graduação. Eu escolhi Culinária, e, dentro do curso, optei por “Hotel Culinary”. Hoje, entendo que era pra ser eu. Eu precisava desses 5 anos, “sozinha”, e dessa transformação e amadurecimento na minha vida.
GASTOS
Ademais, muitas taxas já estavam incluídas. Eu morava no dormitório, tinha café da manhã, almoço e janta. Viver só de comida de refeitório é tenso. E, ainda, tinha os livros da faculdade, os meus variavam entre 15,000~30,000₩ (12~25 dólares) e eram 5 a 6 matérias por semestre, um livro pra cada matéria, não saía muito barato não.
EXPERIÊNCIAS NO CAMPUS
Além do mais, eu participava do Dongahri do meu curso. Donghari são clubes que os alunos frequentam para socializar enquanto aprendem uma atividade nova. Existem clubes de dança, canto, esportes, de trabalhos voluntários, pintura.
Culinária era o meu caso, desse modo, a gente tinha reunião do clube uma vez na semana, depois da aula, e ficava até tarde. Era incrível, a gente tinha mais liberdade para cozinhar.
COMPETIÇÕES
De 3 competições que participei, ganhei medalha de ouro, de prata e um prêmio de quarto lugar. Falo isso com o maior orgulho do mundo, porque foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida, e era meu sonho.
As competições e meu TCC, foram de longe os dias mais especiais que eu já vivi na minha vida. Aqueles dias em que você vê que valeu a pena não desistir, o esforço nunca é em vão, e persistir nos sonhos, sempre vai nos levar até eles.
COREIA DO SUL
Viajei com a universidade e um dos lugares mais especiais em que estive foi num “Temple Stay”. Basicamente, passamos um final de semana em um templo no meio das montanhas. No outono, a paisagem parece uma obra de arte, em tons terrosos, as folhas caindo das árvores. A energia dos monges e do lugar era incrível, nunca mais vivi nada parecido.
Outro detalhe que eu amava na minha cidade é que era muito segura. A liberdade que eu sentia ao poder sair à meia noite era demais.
Gisene, o que te motivou a aprender sobre a gastronomia coreana?
Não me especializei na gastronomia coreana, mas hoje acredito ser uma das minhas favoritas. As combinações de sabores e as fermentações como o kimchi (que é uma das coisas que eu mais sinto falta). É tudo muito complexo, (…) existe uma infinidade de acompanhamentos (banchan) e cada um deles tem seu modo de preparo. Em um dos restaurantes em que trabalhei nas férias, junto com cada prato principal, servíamos 21 acompanhamentos.
Por fim, aí está uma coisa que despertou curiosidade e paixão em mim: Kimchi foi umas das coisas mais incríveis que eu já comi. Eu ficava testando com fermentação prolongada e feito no dia. Inclusive estou montando um projeto, logo terei novidades!