“Chiclete” é o quinto livro de poesias de Kim Ki Taek e reúne 56 poemas. A obra que completa em 2019, 10 anos de publicação de seu original, ganha tradução para o português.
A subjetividade do cotidiano a partir de uma perspectiva dos objetos e acontecimentos urbanos, ganha forma em “Chiclete” de Kim Ki Taek. Recentemente publicada pela Editora 7Letras com apoio do LTI Korea; a tradução para o português foi realizada por Yun Jung Im, professora de Língua e Literatura coreana da USP. Que é também responsável, pela tradução de outros títulos coreanos como “A Vegetariana” e “Contos da Tartaruga Dourada“.
Para compreender um pouco mais a respeito da literatura coreana e o processo de tradução de “Chiclete”; o BrazilKorea realizou uma breve entrevista com Yun Jung Im:
Como você definiria o percurso que a literatura coreana tem percorrido no mercado literário brasileiro?
Diria que está apenas começando, pois, até agora, as publicações são escassas e difusas. Minhas traduções, a exemplo, têm sido direcionadas a um tipo de literatura acadêmica e literariamente radical, sem pretensões mercadológicas. Com a projeção da Coreia no cenário mundial em diversas áreas, a literatura também deve passar a atrair uma atenção cada vez maior.
Qual foi o principal desafio que enfrentou ao traduzir “Chiclete” para o português?
No caso de Chiclete, não houve grandes dificuldades do ponto de vista das tradições e da cultura. Diferentemente do que aconteceu em “Contos da Tartaruga Dourada” – primeira narrativa ficcional coreana, do século 15, que traduzi em 2017 e foi lançada no ano passado pela Estação Liberdade.
Isso se deveu à ambientação urbana e as referências da contemporaneidade sobre as quais se assenta a obra de Kim Ki Taek. O principal desafio, neste sentido, foi garantir a concisão poética – uma vez que a língua coreana permite maior concisão –, sem resvalar na explicação das elipses. Além de transmitir o tom de cruel indiferença particularíssima do autor.
Kim Ki Taek utiliza objetos poéticos enquanto metáforas para abordar temas como a violência, a morte e a memória. Seriam esses objetos poéticos, os abismos que nos olham de volta?
Acredito que os objetos poéticos de Kim Ki Taek sejam mediadores utilizados pelo autor para o seu “processo de nomear”. Conforme por ele explicado na video-conferência que aconteceu na cerimônia de premiação do IV Concurso de Resenhas de Literatura Coreana (…) Segundo ele, a sua poesia busca “nomear” sensações e sentimentos para os quais não encontra expressões dicionarizadas ou articuladas de alguma maneira. Obviamente tais sensações e sentimentos, nada tem de confortável ou consolador, estando mais próximos de “abismos” sim. E toda poesia é uma metalinguagem, em alguma instância.