Durante o séc. XX, a Coreia do Sul se destacou dentre os países da Ásia, como aquele com mais intenso e veloz crescimento urbano. Para compreender essa impressionante evolução da arquitetura coreana, é importante conhecer um pouco da sua história nos últimos 110 anos.
Estudiosos da arquitetura coreana, como Inha Jung, costumam associar o fluxo de desenvolvimento urbano e arquitetônico aos eventos sociopolíticos ocorridos, sobretudo, no século passado. Muitos acontecimentos marcaram a história da Coreia, desde colonialismo, divisão, guerras, regime militar até democracia, reforma agrária, desenvolvimento industrial, acordos diplomáticos, desenvolvimento cultural e esportivo. Jung, destaca principalmente três períodos neste processo de desenvolvimento: colonial moderno (1910 até 1945), ditadura do desenvolvimento (1961 a 1988) e modernização com tendência globalizante (a partir de 1990).
Modernismo colonial
No início do séc. XX, a Coreia era uma terra reclusa, distante da civilização moderna, onde predominavam os campos agrícolas. Apenas 3% da sua população total vivia em área urbana.
No período colonial (1910–1945), houve tentativa de imposição das tradições arquitetônicas japonesas e a arquitetura coreana era desrespeitada. Isso resultou em deterioração e demolição de relevantes elementos arquitetônicos da época e estruturas do palácio imperial coreano, jardins e elementos paisagísticos foram destruídos. Contudo, alguns coreanos resistiram ao nacionalismo japonês construindo casas tradicionais coreanas no estilo hanok, como aquelas da vila de Jeonju.
Nesta época, o estilo japonês de decoração foi utilizado para reformar edifícios históricos. A infraestrutura ferroviária, hotéis, bases militares, correios, escolas, prefeituras, delegacias e cadeias também foram construídas ao estilo japonês. Alguns novos edifícios ganharam estilo renascentista euro-americano ocidental, como por exemplo o edifício do Governo Geral Japonês, construído em estilo neoclássico em 1926. Entretanto, os movimentos de design ocidentais do séc XX, como a arquitetura art decó e modernista, não chegaram à Coreia até então. As influências do séc. XX só alcançaram a arquitetura coreana após a sua libertação do Japão.
Ditadura do desenvolvimento
Depois do término da segunda guerra mundial, também chegou ao fim o período de colonização japonês, e a península da Coreia foi dividida. Assim sendo, o lado sul temporariamente sob tutela dos EUA, a influência americana passou a permear o lado sul-coreano da mesma.
Entre os anos de 1950 e 1953, a Coreia viveu uma intensa fase de guerra civil. A cidade de Seul sofreu inúmeras invasões e alternância de comando entre os poderes norte e sul-coreano. Com efeito, o longo período de colonização exploradora, seguido dos conflitos armados da Guerra da Coreia, resultou num país devastado que precisava ser reconstruído. Dessa forma, deu-se início a uma fase de restauração e de desenvolvimento, com predominância da arquitetura coreana vernacular (caracterizada pelo uso de materiais e conhecimentos locais) na recuperação de prédios tradicionais.
Já na construção de novos edifícios, foi adotado o modelo americano. Neste período de desenvolvimento houve um boom de construção em larga escala. Nesse sentido, para atender a grande demanda de moradia para os trabalhadores, as construções eram rápidas, simples, baratas e sem muita consideração pela estética.
Modernização globalizante
No final do séc. XX a Coreia era destaque no campo esportivo e foi indicada para sediar, entre outros eventos de esportes, os Jogos Asiáticos de 1986 e os Jogos Olímpicos de 1988. Essas indicações fomentaram novamente a construção civil e o desenvolvimento urbanístico na Coreia do Sul.
Agora era necessário comercializar globalmente o país, então arquitetos com formação internacional submeteram projetos dotados de conceitos alternativos para a arquitetura deste período. Desta vez a estética ganhou da praticidade e as obras arquitetônicas mais notáveis, desde então, foram aquelas impulsionadas pelos esportes.
Contexto cultural e perspectivas
Enfim, com arquitetos estudando em diferentes países e percebendo a necessidade de projetos com design próprio e de utilizar materiais requintados, a arquitetura coreana pôde experimentar uma nova fase. Mesmo com resistência para transpor tradições em favor da estética, edifícios públicos, culturais e museológicos foram concebidos considerando seu significado dentro de um contexto cultural. Parte deste novo conceito de arquitetura deve-se às corporações estrangeiras que se instalaram na Coreia adotando um design inovador, imprimindo a sua identidade aos edifícios.
A arquitetura e o urbanismo estão em constante evolução, mas nem só de modernos arranha-céus vive a Coreia do Sul. O conceito de harmonia com a natureza da antiga arquitetura ainda pode ser observado. Há arquitetos contemporâneos que prezam por manter viva esta tradição, como no exemplo do projeto do Seoul Namsan Gugakdang.
A tendência de integração entre edifício, natureza e espaço urbano está cada vez mais presente na arquitetura coreana. Nesta vertente, obras como a de a revitalização do córrego Cheonggyecheon e posteriormente no Complexo da Universidade Feminina Ewha, ganharam destaque nos últimos anos.
Nos últimos tempos, arquitetos coreanos têm se empenhado na concepção de projetos que aliam funcionalidade à estética, sem desprezar a harmonia com o meio ambiente. Isto nos leva a crer que um viés ecológico e sustentável norteará a arquitetura coreana dos próximos anos. Agora é esperar para ver!
Fontes: The Granite Tower, De Gruyter, Hisour, Korean Architecture
Exatamente texto. Detalha com clareza a evolução da arquitetura coreana.
Incrível!!! A abordagem da arquitetura coreana é bem embasada, o contexto histórico enriqueceu a matéria. Texto muito rico!