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Executivos coreanos no Brasil – Experiências no universo corporativo

executivos coreanos

Imagem: blog.kcomwel.or.kr

A expansão das relações entre Brasil e Coreia tem ganhado cada vez mais espaço no mundo dos negócios. O expressivo fluxo de executivos coreanos que vêm se dedicando a investir no mercado brasileiro, têm procurado se especializar não só campo dos negócios, mas imergir na cultura brasileira, através da língua, dos costumes e da cultura.

O BrazilKorea conversou com Janaina Behling, linguista que tem partilhado experiências de letramento junto a executivos coreanos no Brasil, a fim de entender um pouco a respeito deste universo e destas vivências. 

Os coreanos que chegam para fixar residência, mesmo que temporária, não querem apenas saber como pedir um táxi ou um bife. Eles são ávidos por se inserir em nossa cultura, ainda muito pouco difundida na própria Coreia do Sul, mas que quando se apresenta é com aquele colorido exótico que se perde no cinza da cidade e eles percebem.

– Janaina Behling

BrazilKorea: Como se deu a escolha do método do letramento e como acredita que este método contribui para o ensino da língua portuguesa e da cultura local aos estrangeiros? 
Janaína Behling
: Não foi bem uma escolha, mas o acesso ao que tínhamos disponível e de alto nível na minha própria formação. Os estudos dos letramentos levam em consideração a leitura e a escrita como fenômenos que se dão ao longo de toda a vida das pessoas, para além dos ambientes escolares, podendo ser tratados, esses fenômenos, em qualquer contexto.

BrazilKorea: Em que momento você se insere no universo corporativo e como linguista, quais os principais desafios enfrentados neste processo de familiarização? 
Janaína Behling
: Estive em contato com o universo corporativo tratando de projetos educacionais e sociais, mas nunca como agente de letramentos. Depois de alguns anos fora de São Paulo, morando em Brasília e no Rio de Janeiro, tratando de políticas públicas de juventude, procurei me aprofundar nas vivências com estrangeiros interessados pelo Brasil. Primeiro, me propus a morar num hostel por três meses e aperfeiçoei um pouco o domínio do inglês falado. Um amigo, inclusive, britânico, deu a dica de que uma escola de idiomas procurava professores de português para estrangeiros. É comum eu iniciar novos projetos a partir do ensino de língua brasileira. Eles precisavam de alguém que atendesse os coreanos. Começou a aparecer um cliente atrás do outro, eles gostaram e eu também. Em geral, são 4 horas semanais por pessoa, mas já aconteceu de visitarmos museus, livrarias, tomar cafés, conhecer o litoral paulista, discutir costumes.

Acervo – Janaína Behling

BrazilKorea: Em seu entendimento, quais as principais dificuldades enfrentadas pelos executivos coreanos ao buscarem se inserir na cultura do país estrangeiro?
Janaína Behling: 
Os coreanos acham o português do Brasil muito difícil e, mesmo que a maioria de meus clientes seja fluente pelo menos em inglês e já tenha vivido em outros continentes, sempre aprendendo novas línguas, acabam, de fato, alegando essa dificuldade. É aí que entra o profissional da linguagem e a avaliação, revisão ou mesmo inovação das abordagens. Eu diria que, começando pelos materiais didáticos, os problemas vão aparecendo. São escassos e deixam a desejar, desprezando a abordagem comunicativa como principal, ou seja, dizendo que “parte da vida real”, de situações cotidianas, mas, na realidade, são bastante presos à gramática formal. Outro fator é a visão do mercado de ensino. Não dá para chegar nas empresas, no Consulado, nas igrejas, nas casas das pessoas, onde for, dizendo que vai ensinar expressões de sobrevivência. Isso funciona para vender serviços, ganhar algum dinheiro, mas é uma falácia. Os executivos coreanos que chegam para fixar residência, mesmo que temporária, não querem apenas saber como pedir um táxi ou um bife. Eles são ávidos por se inserir em nossa cultura, ainda muito pouco difundida na própria Coreia do Sul, mas que quando se apresenta é com aquele colorido exótico que se perde no cinza da cidade e eles percebem. Quando você está nas multinacionais coreanas tratando de vivências de letramento, que é bem mais que ensinar português, e fala com os funcionários brasileiros sobre isso, em geral, as pessoas se prontificam a sociabilidades e vão descobrindo que a coisa de ser brasileiro se constrói todos os dias, depende da situação. Para mim, o mais relevante é que no meio dos que se prontificam é comum aparecer temas ligados a algum tipo de ativismo sobre Direitos Humanos, como o as questões raciais e de gênero. E é nesse ponto que eu digo que os coreanos são asiáticos diferenciados porque estão mais próximos de se constituir por meio de debates e ações que promovam o multiculturalismo, a diversidade, a criatividade dentro e fora da vida corporativa. Nos EUA, segundo revistas como a Havard Business Review, já foram gastos mais de 160 milhões de dólares em programas que tentaram tratar dessas questões de forma positiva, e, ao mesmo tempo, montante similar em indenizações por preconceito e discriminação. Então, fracassam. Saber o que é multiculturalismo nos trópicos a partir da relação com os coreanos é algo a ser construído de verdade, por uma questão ética, ou seja, não dá pra improvisar.

Voltando à questão do aprendizado da língua, temos uma nova dimensão no tratamento disso. É preciso estar aberto a novas descobertas. Eu mesma iniciei, para compreender mais a fundo os caminhos das dificuldades, um curso básico de coreano. As vivências têm melhorado bastante porque fui adquirindo mais autonomia para aproveitar e criar materiais, principalmente, utilizado na Coreia do Sul para o ensino de nossa língua. Na verdade, tem bem pouca coisa, mas o que tem, em compensação, é muito interessante. Consegui compreender que o Hangul é um sistema de escrita bastante sofisticado, porque é muito simples e em alguns meses você entende. Exemplo é quanto aos termos acessórios das orações, como artigos e preposições, que não fazem sentido para eles, que por vezes conseguem formar frases melhores sem isso. O que é motivo de estranhamento para um brasileiro, mas que ao longo do tempo vai deixando de ser motivo de piada e preconceito linguístico.

Na segunda parte desta entrevista, os leitores poderão compreender mais a dentro, o trabalho de Janaína Behling e uma reflexão das relações internacionais que envolvem o meio corporativo, tendo como referencial os executivos coreanos.

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