O Instituto de Tradução de Literatura da Coreia (LTI Coreia) possui, em seu enorme arquivo, algumas importantes publicações dos anos 20, 30 e 40. Saiba mais sobre uma delas.
Um dos objetivos do Instituto de Tradução de Literatura da Coreia (LTI Coreia) é permitir que os coreanos conheçam algumas publicações escritas em coreano, japonês ou qualquer outra língua, através de sua plataforma. Isso inclui publicações de 1920 a 1940. Nesses anos, os escritores falavam, estudavam e escreviam principalmente em coreano, mas grande parte de seu trabalho era feito em japonês. O japonês era a língua da metrópole, a linguagem da globalização, e muitos dos primeiros trabalhos do povo coreano foram criados em japonês e foram publicados em um cenário japonês.
Nessa primeira parte, conheça a obra “Into the Light” (1939) de Kim Sa-ryang (1914-1950) (2013 por Jane Kim) / <빛속에> 글김사량.
“Into the Light” é um conto sobre um professor de escola chegando a um acordo com sua própria identidade e se apaixonando paternalmente com um garoto desfavorecido e desvalido em sua escola. De fato, ele “vem à luz” no sentido de não mais se envergonhar de quem ele é ou do que é. O professor atinge a paz interior. O garoto se torna confortável com sua identidade também, e até mesmo o motorista, tão irritado no início da história, está feliz no final. Todos eles vieram à luz.
O nome Kim Sa-ryang (김사량) é um pseudônimo de Kim Shi Chang (김시창) (1914-1950). O autor se graduou na Universidade Nacional de Tóquio em literatura alemã e retornou a Seul em 1943. Conseguiu um emprego com o Exército Imperial Japonês, mas fugiu dele, e começou a escrever para o Exército de Libertação Coreano (한국 광복군). Como muitos coreanos espalhados pelo nordeste da Ásia, o escritor retornou à península coreana, em 1945.
Escrito em japonês e publicado pela primeira vez no Japão em 1939, “Into the Light”, até recentemente era proibido na Coreia do Sul porque o autor era considerado um simpatizante norte coreano. Sua história trata da classificação institucionalizada de cada cidadão, um sistema de classificação que permeou o Império Japonês.
O Apartheid na África do Sul, foi baseado em conceitos sobre a quantidade de melanina na pele de uma pessoa. Um processo semelhante foi implementado em todo o Japão Imperial, mas baseado em onde você nasceu no Império Japonês ou onde seus pais nasceram.
No Japão Imperial, se você nasceu de pais originários de Honshu ou Kyushu, ou se sua primeira língua em casa era japonesa, você era classificado como “japonês”. Se você nasceu de pais que eram originários da Península Coreana ou se a sua primeira língua em casa era coreano, você era classificado como “coreano”. Se você nasceu de pais originalmente de Jilin, Heilongjiang, Liaoning ou partes do interior da Mongólia, e falava qualquer das várias línguas que eram usados lá, você era classificado como “Manchurian”.
Havia também uma quarta e mais baixa classificação que o Japão Imperial usou, chamado de “chinês”. Tudo isso era semelhante ao sistema de apartheid na África do Sul, exceto que todas as pessoas neste caso eram de regiões vizinhas.
Em “Into the light”, o personagem principal aprende a aceitar o fato de que ele é classificado como “coreano” e ele, o garoto da escola e o motorista aprendem a aceitar a sua “Coreia” e viver com paz interior e contentamento. As personagens nadam entre essas duas identidades, uma da periferia, uma da metrópole: uma de ser “coreana”, ou Joseon como se costumava dizer, e uma de ser cidadã do império, talvez até “japonesa”. Não há atributos físicos a essas distinções, então tudo isso está nas mentes das personagens, em seus papéis de inscrição, e com base no que eles disseram desde o nascimento.
Uma das primeiras obras coreanas que fala sobre a realidade enfrentadas por muitos cidadãos não “japoneses” do Império japonês, “Into the Light” foi nomeado para o prestigiado Akutagawa após sua publicação.
“Into the Light” pode ser lido em inglês aqui (24 páginas).
Fonte: korea.net
[…] Leia também a primeira parte desse especial de leituras da década de 30, aqui. […]