The Witness

The Witness | Imagem: imdb.com

The Witness (2018) foi dirigido por Jo Kyu Jang que também co-escreveu com Lee Young Jong (Flu – que já fizemos resenha aqui). O filme é um thriller muito bem trabalhado capaz de intrigar, angustiar e fazer o espectador refletir sobre suas ações.

Sinopse:

“Uma noite em seu apartamento, Sang-Hoon (Lee Sung Min) ouve o grito de uma mulher. Ele olha para fora de seu apartamento e vê Tae Ho (Kwak Si Yang) batendo em uma mulher com um martelo. Sang Hoon e Tae Ho fazem contato visual. Sang Hoon não chama a polícia. No dia seguinte, essa mulher é encontrada morta. O detetive Jae-Yeob (Kim Sang-Ho) investiga o caso. Sang Hoon ainda está aterrorizado e não conta ao detetive Jae Yeob sobre o que ele testemunhou. Logo, outra pessoa que testemunhou o mesmo assassinato é morta por Tae Ho. Sang-Hoon tenta proteger a si e sua família do assassino.” Extraído de asianwiki.com – tradução: BrazilKorea  

Tem um pensamento budista que diz que nossas ações, sejam elas boas ou ruins, criam sementes na nossa mente que vão germinar em algum momento. Sabe quando você faz algo que tira seu sono a noite? Sabe quando você faz algo bom e fica com um sentimento de satisfação?

É desse jeito que gosto de interpretar esse pensamento. O karma pode se manifestar de diversas maneiras e acredito que quando fazemos algo ruim e isso nos tira a paz, trazendo peso na consciência, é fruto daquela semente gerada na mente.  

O espectador é a maior vítima desse filme

Em The Witness (목격자) não é diferente, Sang Hoon viu uma pessoa sendo agredida e morta. Tomou a decisão de não chamar a polícia, pois o criminoso o viu testemunhando o crime e marcou sua casa. O filme é realmente um thriller e proporciona um ambiente de angústias e incertezas infinitas, tanto para o espectador quanto para o personagem principal.

É bem comum que em filmes deste gênero, especialmente nos casos em que há um envolvimento policial, tenta-se traçar um perfil psicológico do criminoso para capturá-lo. Em The Witness, não temos nenhuma informação em relação ao assassino. Não sabemos quem é, não vemos o rosto e nem ficamos sabendo o motivo do assassinato.

O que é perfeito para um filme que quer cumprir o papel de angustiar uma pessoa: (1) não dar a informação que se precisa; (2) fazer com que os eventos tomem rumos diferentes do desejado.

Já no início do filme, no posto de gasolina, dá vontade de abrir aquele porta-malas para saber o que tem lá e, então, salvar a mulher. Mas o atendente não pôde fazer isso por nós. 

Acontece então uma fuga que leva a mulher sequestrada para um condomínio. O fato da mulher ter chegado num  lugar civilizado, contrapondo o ambiente anterior no qual ela estava, nos leva a pensar que ela conseguirá ajuda. Isso também não acontece. 

Mais uma vez, é um ótimo thriller, pois a quebra de expectativas, os sentimentos de frustrações e a série de desapontamentos acontecem cena após cena. 

O Karma é a maior testemunha de seus atos

Sang Hoon chega no condomínio quase no mesmo horário que a vítima. Ele está meio embriagado e surpreende uma vizinha no elevador que já estava assustada por ter ouvido o grito de uma mulher. Ambos chegam a seus apartamentos e é quando Sang Hoon presencia o assassinato. 

Ele fica assustado e apressadamente apaga a luz que sua esposa ascendera e nada diz em relação ao ocorrido. Não chama a polícia, não conta a esposa e não faz absolutamente nada. Até que vai novamente a janela e troca olhares com o assassino. 

Acabara de traçar o seu destino angustiante para durante todo o filme. E é por isso que chamarei de karma. O medo que sente pela sua família e as decisão que toma para garantir-lhes segurança, não traz paz de espírito para Sang Hoon. É como um peso na consciência por estar fazendo algo que não é certo.

Em vista disso, Sang Hoon é assombrado pela própria mente, calculando cada palavra dita e preocupando-se intensamente com sua família. O policial responsável pela investigação não consegue nenhuma informação dele e acabam prendendo a pessoa errada. Sang Hoon percebe que não é a mesma pessoa e é confrontado por outra testemunha que pede para irem a polícia juntos relatar o ocorrido. No entanto, se nega a ir fazer a denúncia.

Consequentemente, a nova testemunha é morta pelo mesmo assassino e advinha quem viu tudo! Nosso colecionador de karmas, que não conta para polícia e nem ao marido da nova vítima, que acha que a mulher está desaparecida.

Em contrapartida, a esposa de Sang Hoon, aparece fazendo boas ações. A primeira foi pedindo ao marido para ajudar uma conhecida que teve o filho atropelado, enquanto o motorista ficava livre de culpa. Num segundo momento, ela ajuda o marido da testemunha assassinada.

O meio em que você está inserido

Sang Hoon e esposa são novos na vizinhança e recebem um pedido dos vizinhos para não cooperarem com a polícia nesse tipo de situação. É uma política já pré-estabelecida e todos vivem nesse acordo coletivo. Imaginem o karma dessas pessoas!

Diante disso, tenho uma teoria que deixa o filme ainda mais interessante e perturbador: o assassino é a própria personificação do karma ruim. Ele é responsável por fazer as pessoas pagarem pelo que fizeram de errado e é por isso que está tão presente naquela vizinhança ruim.

Geralmente, os thrillers montam uma narrativa que permite descobrir as razões dos crimes; traçando um perfil do assassino e investigando pistas para capturá-lo. Em momento algum, o filme se articula para tentar investigar o assassino e desvendar seus crimes. No final do filme descobrimos vários outros crimes cometidos por ele, mas nenhum esclarecimento. Isso porque o foco central está nas testemunhas e no meio no qual elas estão inseridas. Ou seja, os mistérios a serem desvendados aqui não é o perfil psicológico do assassino.

No entanto, as únicas revelações que temos em The Witness são das pessoas perseguidas pelo assassino. E se formos montar um perfil das pessoas perseguidas por ele, observamos que são testemunhas do crime e que não fizeram nada para ajudar.

Junto a isso, descobrimos a pilha de corpos próximo a vizinhança. Não é estranho que tanta gente tenha sido assassinada numa vizinhança cuja política se baseia em não se simpatizar pela causa alheia. Me pergunto se esta política foi criada em virtude desses assassinatos. Ademais, por qual motivo teriam tal política institucionalizada no condomínio?

Testemunhe esta obra

Se somos capazes de sentir no filme, podemos sentir na vida real. É incrível como um filme de suspense é capaz de despertar sentimentos nas pessoas dessa maneira. Geralmente, nesse tipo de filme, o telespectador testemunha e sente o medo e a angústia do personagem-alvo. Imagina testemunhar e sentir as angústias alheias de pessoas reais. E a partir daí e de suas ações em relação a elas, qual semente iria florescer?

Filmes de suspense são capazes de despertar sentimentos nas pessoas de uma maneira muito visível e crua. É muito intrigante a maneira como interagimos com esta arte que transpassa a tela.

O filme está disponível na Netflix.

Fontes: Gêneros cinematográficos: Thriller (página 39-41) – Luis Nogueira, imdb.com, asianwiki.com.

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