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A versão brasileira da gastronomia coreana

gastronomia

Imagem: wikimedia.org

Quando duas culturas se encontram e se conectam, é inevitável que novas coisas – grandes ou apenas detalhes – sejam criadas. Por exemplo, se misturarmos os pratos japoneses com a inventividade brasileira, teremos o famosíssimo Hot Filadélfia: um sushi empanado e frito coberto por cream cheese. E na gastronomia coreana?

Essa mistura cultural não acontece só no caso da criação de novas coisas; isso se traduz em pequenas coisas, como a forma que determinadas culturas se vestem em eventos. Caso sejam eventos globais, isso fica ainda mais latente. Olhos bem treinados percebem traços culturais nos trajes de gala do Oscar ou, por exemplo, nos “trajes funcionais” num torneio de poker – e isto diz muito não só de onde eles vem, mas no que eles acreditam ou querem chegar.

Deixando (um pouco) de lado essa questão extremamente complexa aos quais foram dedicados séculos de estudos antropológicos, nos perguntamos aqui: como o Brasil tem interpretado a culinária coreana? Surgiram coisas novas e deliciosas como o Hot Filadélfia ou o espaço dos restaurantes ainda é pequeno e não houve espaço para essas invenções? Pois bem, fomos conhecer os pratos de restaurantes coreanos em São Paulo, e começamos pela Liberdade.

No Portal da Coreia, se consegue encontrar a tradição coreana já deixando o preparo um pouco na mão do cliente brasileiro. Nesse restaurante, o preparo do ponto do tradicional bulgogi, carne cortada em fatias finas e marinada em molho doce de soja, pimenta e brotos de feijão, fica à feição do cliente – dando a faculdade ao brasileiro criar seu ponto de preferência da carne. É uma liberdade interessante para o cliente, pois permite que ele traga para dentro da tradição de determinados pratos o seu gosto particular. Você pode encontrar esse mesmo modo de funcionamento no Lua Palace.

No Sa Gun Ja, um dos mais badalados restaurantes coreanos da cidade de São Paulo, traz a tradição coreana para o Morumbi, atendendo, em sua maioria, executivos coreanos. Mesmo assim, os costumes e nomes de pratos ficam todos compreensíveis e na “versão brasileira” – trazendo já uma ponte entre a tradição sul-coreana e os costumes do Brasil. O já mencionado bulgogi é grelhado na mesa – sem a inserção do cliente no ponto da carne, mas preparada com zelo. Entre os pratos também tradicionais, o bibimbap, uma mistura de arroz com vegetais, arroz e ovo também pode ser provado de forma bastante fiel à tradição.

A bem da verdade, ao sair à procura das versões brasileiras da tradição coreana, a expectativa era simplesmente encontrar variações brasileiras dos pratos, mais do que qualquer outra coisa. Mas se considerarmos que a cultura coreana – especialmente na culinária, mais do que qualquer outra – ainda não é tão divulgada, não houve ainda aquela internalização dos pratos tradicionais a ponto de mudá-los. Estávamos receosos de encontrar os pratos coreanos sem tanto tempero, pois muitos dos brasileiros não estão acostumados com sabores fortes e apimentados, lembram da polêmica toda do biscoito Globo?

Só que isso não quer dizer que não exista uma mistura. Por mais tradicionais que sejam os restaurantes, por mais que sejam feitos por coreanos radicados no Brasil, eles já carregam a necessidade de se traduzir no Brasil. Por lidar com o povo brasileiro, os coreanos precisam perceber como esses clientes querem ser atendidos; da mesma forma que o brasileiro, ao procurar a comida típica asiática, está dando um passo para fora do seu universo conhecido para um novo. Pode não ser grande a ponto de nascer um novo Hot Filadélfia, mas não quer dizer que não seja significativo.

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